Os avanços na Medicina Veterinária nas últimas décadas são impressionantes, aproximando nós profissionais da área cada vez mais dos recursos e tecnologias utilizados na Medicina Humana. Permitindo a utilização de equipamentos que até pouco tempo restringiam-se, apenas, a hospitais humanos.
Sou formada há cerca de uma década em medicina veterinária e, desde o início da minha graduação, foquei grande parte dos meus estudos na área de animais exóticos e silvestres. O trabalho com esses animais é sempre um desafio, já que trabalhamos com espécies muito diferentes, seja em relação ao tamanho, a fisiologia ou as afecções mais frequentemente encontradas.
Por esses motivos, a prática da medicina com esses animais exige do profissional grande dedicação, estudo, meios de diagnóstico diferenciados e aplicação de técnicas clínicas e cirúrgicas mais específicas. Foi com base nesses desafios, que comecei a me dedicar ao estudo da endoscopia em animais silvestres, uma ferramenta muito completa e que permite abordagens diferentes na clínica e cirurgia desses pacientes tão especiais.
Os meios de diagnósticos rotineiramente utilizados nos animais silvestres, como exames de sangue, exames de imagem tradicionais (como Raio-X, Ultrassom abdominal, Tomografia e Ressonância Magnética) apesar de muito importantes para auxiliar no reconhecimento e tratamento das afecções nesses pacientes, muitas vezes precisam de outros meios complementares para que cheguemos há um resultado conclusivo e fidedigno, já que, para várias dessas espécies, não temos disponíveis valores de referência e uma padronização bem estabelecida do que seria normal para cada uma delas.
A utilização de um meio de diagnóstico como a endoscopia nos permite com uma abordagem minimamente invasiva e segura avaliar de forma mais concreta os órgãos internos dos pacientes, realizar a sexagem e a avaliação do trato reprodutivo, coletar material de biópsia para avaliação histopatológica e, consegue, em inúmeras situações confirmar diagnósticos que os exames tradicionais não conseguem abranger; o que torna a prática clínica mais segura e eficaz, permitindo obter respostas que em outras situações teriam ficado sem solução.
Um exame minimamente invasivo, mas, com a capacidade de nos dar informações de uma forma rápida sobre vários órgãos como coração, pulmão, sacos aéreos, estômago, intestino, pâncreas, fígado, baço, rim, glândula adrenal, cloaca, traquéia, siringe, bexiga, bexiga natatória, dentes, laringe, etc.; e, que permite uma recuperação mais rápida do paciente e, consequentemente, um retorno mais rápido para a casa no caso dos pets silvestres, ou para seu habitat no caso de animais mantidos em cativeiro ou mesmo de vida livre; é uma ferramenta que buscamos há tempos na medicina de animais silvestres.
Por exemplo, em grande parte dos pacientes silvestres não é possível a determinação do sexo apenas com o exame clínico, algo que não enfrentamos na clínica de pequenos animais. A endoscopia resolve essa dificuldade permitindo a sexagem precoce de filhotes o que permite uma visão muito mais abrangente dos programas de reprodução em cativeiro, como é o caso de diversas espécies de tartarugas em que a determinação da proporção de machos e fêmeas em uma ninhada pode ser temperatura dependente e a avaliação da incidência de machos e fêmeas em uma ninhada é de extrema importância para essas espécies ameaçadas de extinção.
Em outros pacientes, o exame físico fica restrito. Seja pela conformação do corpo, ou pelo comportamento selvagem do animal que não permite a realização do exame sem sedação e/ou anestesia. No caso dos roedores, onde um problema muito comum na clínica é a mal-oclusão dos dentes pré-molares e molares e que devido a conformação da boca estreita e mais afilada no fundo muitas vezes não permite um exame clínico preciso a olho nu, mesmo com o animal sedado. O clínico se beneficia muito da utilização do endoscópio, que com sua capacidade de magnificação e gravação das imagens permite uma avaliação mais precisa do problema do paciente e as imagens gravadas permitem que o proprietário visualize facilmente o problema do seu animal e assim conseguimos uma maior compreensão e adesão ao tratamento.
Desta forma, seja para a sexagem, seja para a avaliação de um órgão interno, é possível não apenas visualizar a lesão, como também coletar material para avaliação histopatológica; ou mesmo, para a realização de endocirurgias, um ramo que tem muito potencial a ser explorado nessas espécies.
A despeito da endoscopia ser uma ferramenta infimamente utilizada na rotina clínica e cirúrgica na medicina veterinária, estamos caminhando, a passos largos para a sua ampliação, haja vista por ser um caminho promissor. Já que nosso objetivo principal é fornecer a opção de diagnóstico e tratamento mais adequados para cada espécie, utilizando-se das ferramentas minimamente invasivas da melhor forma possível para nossos pacientes.
Entrevista Cedida por - M.V. Erika Martins van Tol
CRMV-SP 25043
Graduada pela FMVZ-USP (2008)
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