Esterilizadores por peróxido de hidrogênio x tecnologias de baixa temperatura: Como escolher o melhor método?

CME
Tempo de leitura: 5 minutos

Quando uma Central de Material e Esterilização (CME) ou serviço de saúde definem realizar a incorporação tecnológica de um equipamento de esterilização por baixa temperatura, é muito comum nos deparamos com o cenário onde os Esterilizadores por Peróxido de Hidrogênio representam a primeira e, muitas vezes, a única opção de aquisição.

Muito embora esse tipo de equipamento possa proporcionar inúmeros benefícios às rotinas de Processamento de Produtos para a Saúde (PPS) nos serviços, é importante considerar que nem sempre pode ser a alternativa mais adequada. Além dos Esterilizadores por Peróxido de Hidrogênio, existem outros tipos de tecnologias também destinadas à esterilização por baixa temperatura e, nesse sentido, entender as características e aplicações delas antes de qualquer aquisição é fundamental, pois pode evitar um investimento incorreto ou, até mesmo, a contratação de um serviço que não atenda as demandas necessárias.

Dentre os principais métodos de baixa temperatura existentes as tecnologias mais comuns são:

Método físico-químico, sendo o gás ETO o agente esterilizante. Descoberto em 1859, inicialmente, utilizado pela indústria como agente pesticida e usado como agente esterilizante para PPS desde 1950 (EUA).

 

Os equipamentos trabalham com a concentrações de ETO na faixa de 450 a 1.200 mg/L, temperatura de esterilização em uma média de 37 a 63°C e tempo de exposição que pode variar de uma a seis horas.

Como principais características, considerando as vantagens e desvantagens destacadas no quadro abaixo, representa um método altamente efetivo, porém, em muitos casos, é inadequado para esterilização de materiais urgentes e/ou de arsenal restrito, já que é um tipo de serviço realizado exclusivamente por empresas terceirizadas:

VANTAGENS - ETO 

DESVANTAGENS - ETO 

  • Alta difusibilidade; 
  • Excelente penetrabilidade (lúmens longos, estreitos e fundo cego); 
  • Alta compatibilidade com diferentes tipos de matérias primas e PPS; 
  • Bom custo-benefício. 

 

  • Gás ETO é Inflamável, explosivo, carcinogênico e altamente tóxico; 
  • Os PPS necessitam passar por longos períodos de aeração após exposição ao ETO; 
  • Não é possível realizar nas CMEs. 

 

Vapor de baixa temperatura por formaldeído (VBTF):

 

Assim como o ETO, trata-se de um método físico-químico, tendo o formaldeído como agente esterilizante. Estudado desde 1936, nos EUA, e com as primeiras aplicações práticas para esterilização de PPS entre 1975 e 1990 (ALE, DK e UK).

 

De 1990 até hoje, o método permanece sobre contínua melhoras na tecnologia, investigação científica e verificação de processo. O agente esterilizante costuma ser utilizado em meio líquido ou sólido.

Dentre as suas principais características, destaca-se a existência de dois tipos de equipamentos destinados à esterilização por VBTF: esterilizadores dedicados (somente VBTF) e equipamentos híbridos (câmaras que realizam esterilização tanto por vapor de alta temperatura quanto por VBTF), esse último, apesar de somar duas tecnologias, requer longos períodos de ciclo (de seis a dez horas), fato que já não ocorre nos equipamentos dedicados (de duas a três horas).

VANTAGENS - VBTF 

DESVANTAGENS - VBTF 

  • É possível realizar na CME ou serviço de saúde; 
  • O PPS não necessita passar por aeração após esterilização – liberação imediata; 
  • Baixa toxicidade (a depender da concentração do agente); 
  • Alta penetrabilidade (quando no estado gasoso). 
  • Pode ser carcinogênico (a depender da concentração do agente); 
  • Certas restrições em termos de compatibilidade (se comparado ao ETO); 

 

Período de hidrogênio:

Também é um método físico-químico, onde o peróxido de hidrogênio é o agente esterilizante. Desde 1993, utilizado para fins de esterilização de PPS com o advento do primeiro equipamento no mercado (Sterrad – Johnson & Johnson) e passando por constantes aprimoramento de tecnologia como é o caso da 130 HPO® – esterilizador lançado em 2017 pela MATACHANA GROUP que associa a esterilização por vapor de peróxido de hidrogênio e plasma.

 

Assim como os equipamentos de VBTF, trata-se de dispositivos que podem ser instalados diretamente nas CMEs e serviços de saúde. Um outro ponto importante de se destacar é o fato de representarem o tipo de tecnologia de baixa temperatura que apresenta a maior variedade de perfis de ciclo e características de construção se realizado um estudo comparativo entre os principais equipamentos do mercado.

Em relação ao agente esterilizante, esses trabalham com concentrações na faixa de 50 a 59% e com tempo de ciclo que variam entre 25 e 70 minutos, esse último a depender do tipo de ciclo e das características de fabricação do equipamento.

VANTAGENS – PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO 

DESVANTAGENS – PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO 

  • Boa compatibilidade com PPS; 
  • Tempo de ciclo rápido; 
  • Realizado na CME; 
  • O PPS não necessita passar por aeração após esterilização – liberação imediata. 
  • Restrição para esterilização de materiais com lúmens internos longos; 
  • Incapacidade de processar líquidos, pós ou absorvedores fortes (ex: celulose); 
  • Os PPS necessitam tolerar vácuo profundo; 
  • Algumas câmaras possuem capacidades reduzidas; 

 

VBTF X Peróxido de Hidrogênio

Como visto até aqui, os esterilizadores por métodos de VBTF e PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO possuem como característica comum o fato de poderem ser instalados diretamente na CME/serviço de saúde, o que já não ocorre no caso do ETO. Nesse sentido, uma vez considerado a incorporação de Peróxido de Hidrogênio entre esses dois tipos de tecnologia, é relevante levar em consideração os seguintes pontos de diferenciação:

Insumos:

  • PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO: além dos custos com o agente esterilizante e indicadores de processo, existe o custo relacionado aos invólucros (SMS e Tyvek®), que são específicos e de alto valor agregado; 
  • VBTF: os invólucros utilizados são os mesmos utilizados nas autoclaves à vapor (SMS e Grau Cirúrgico)

Penetrabilidade:

  • PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO: variam na faixa de 1 a 1,5 metros (comprimento) x 1 mm (diâmetro), alternando em função dos diferentes equipamentos/fabricantes; 
  • VBTF: variam entre 4 metros (comprimento) x 1 mm (diâmetro), também modificando em função dos diferentes equipamentos/fabricantes; 

 

Disponibilidade X Urgência do material:

  • Materiais simples, com baixo valor agregado e sem urgência na sua entrega: melhor indicação → VBTF; 
  • Materiais caros, escassos e com alta rotatividade de uso: melhor indicação → PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO. 

Conclusões:

Considerando o comparativo e todo o conteúdo discutido até aqui, fica a questão:  Mas, afinal, como escolher o melhor método? 

Para responder essa pergunta, antes de qualquer coisa, é importantíssimo ter em mente os seguintes questionamentos: 

 

  • Qual o material a ser esterilizado? 
  • Qual é a sua classificação do ponto de vista de uso (Spauding)? 
  • Qual a recomendação do fabricante do material? 
  • Qual o comprimento e diâmetro do lúmen do material? 
  • Qual o espaço físico disponível na minha CME? 
  • Meu material é realmente urgente? 
  • Qual o volume de material a ser esterilizado? 

 

Uma vez respondida essas e outras perguntas que podem variar em função das características da CME/serviço, é preciso considerar: 

 

  1. A esterilização a baixa temperatura é considerada um método complementar à esterilização a vapor e é indicada apenas para a esterilização de materiais termossensíveis. Não foi concebido como um método alternativo ou substituto para a esterilização a vapor tradicional; 2
  2. Nem sempre um método substituirá o outro, na maioria dos casos, são tecnologias complementares. 

Comentários

Maria Valdenice Lopes dos Santos | 18/02/2023 às 14:39

A Central de Material pela sua complexidade e o grande número e tipos de materiais, leva o enfermeiro a busca contínua do conhecimento no processamento de produtos para saúde.



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